quarta-feira, 29 de junho de 2011

Avaliação de Pós-Ocupação

Avaliação Pós-Ocupação: “morar em conjuntos habitacionais hoje, em Uberlândia”
pesquisa de avaliação pós-ocupação (APO) sobre qualidade estética e funcional dos espaços habitacionais públicos de moradias de interesse social da cidade de Uberlândia
Conjunto Habitacional: Jardim Sucupira


          O Jardim Sucupira é um bairro localizado na Zona Leste de Uberlândia, onde se observam duas modalidades de arrendamento da parcela do solo cedida ao uso: o Conjunto Habitacional, com construções subsidiadas pela esfera pública, e o Loteamento propriamente dito. O Sucupira faz parte da porção de bairros da Zona Leste que se encontram após duas BR's – 050 e 465, onde o mais conhecido talvez seja o Morumbi. É no bairro em estudo que se encontra a penitenciária da cidade, um dos entraves para o bem-estar social e segurança dos que ali residem.
          O objeto deste estudo é uma parcela mínima do Jardim Sucupira. Existe uma grande quantidade de unidades habitacionais já prontas há algum tempo no bairro, mas nenhuma delas ainda foi entregue. Isto posto, aliado ao fato das casas não terem muros entre elas, acabam sendo ocasionadas eventuais depredações nas residências que só aguardam donos. Ainda mais um fator a acrescentar na problemática “segurança”. Atravessando o bairro no sentido oposto ao presídio, nos limites com a BR-465 e o bairro São Francisco, é onde existe um outro conjunto habitacional, mais modesto que o citado anteriormente, e este é o referido objeto de estudo.

          O pequeno conjunto habitacional conta com apenas 18 casas, entregues há quase um ano e meio pela COHAB, mas que em pouco tempo sofreu várias transformações, motivo que dá margem a uma avaliação pós-ocupação, mesmo que tal estudo pareça prematuro para habitações tão recentes. As moradias se localizam apenas em uma das faces de um quarteirão, na Rua do Barbatimão. Já analisando a disposição do conjunto em relação ao seu entorno, observa-se a falta de preocupação e planejamento em empreendimentos do tipo, relegados a áreas pouco habitáveis, e caras à manutenção de infraestrutura, quando a mesma é feita com regularidade, o que não parece ser o caso.

           Um breve parêntese: recentemente, os conjuntos próximos ao Jardim Sucupira – São Francisco, Joana D'arc e Celebridade, tiveram seus assentamentos legalizados pela prefeitura municipal, fato que vai levar algumas melhorias para a região, e talvez até para os conjuntos próximos, assim como a área em estudo. Especulações otimistas, mas que podem vir a se concretizar, caso haja interesse real por parte do poder público, que de um jeito ou outro, ao menos parece sinalizar a favor disso em parte.

           Voltando ao objeto do estudo e algumas de suas características físicas, já é sabido que aquela é região alta de Uberlândia, planialtimetricamente tem uma topografia praticamente plana, com declividade suave em grande parte, o que ocasionalmente gera problemas relativos ao escoamento de águas. Aquela é uma região de divisa topográfica entre as bacias do rio Araguari e Uberabinha. Uma medida seria que o escoamento das águas seguisse para algum manancial próximo, sempre que possível, no caso, na bacia do Uberabinha.  Outra medida são os piscinões, mais econômicos, que é utilizada no local mas não é plenamente eficiente pois não existem galerias que levem a água pluvial em sua totalidade para os reservatórios, que com o tempo levam a água de volta para o lençol freático. Sabe-se que é uma região onde ocorrem alguns alagamentos decorrentes de chuvas e pelos motivos expostos.

          Apesar disso, a região alta proporciona um conforto térmico relevante, visto que são poucas as barreiras contra o vento. O que pode ser visto de maneira positiva, também pode ser de certo modo negativo. A falta de barreiras na área é grande, e até mesmo a arborização se dá precariamente por meio de arbustivas ou árvores de pequeno porte. Além de servir de “filtro” para partículas em suspensão, o sombreamento das árvores é importante para épocas de grande calor, mesmo numa região bem ventilada como aquela. Outro ponto a favor de uma melhor arborização, é o fato de que as árvores também podem servir de barreira acústica, e caso dispostas ao longo da divisa da rodovia com o bairro, a poluição sonora seria menor nas casas mais próximas à BR. Como a própria rodovia se enquadra numa barreira e num limite, dentro de uma análise topoceptiva, mesmo que superficial, conclui-se que o melhor seja dar qualidade ao local, para minimizar os aspectos negativos que tal barreira já carrega consigo.

          Mesmo diante de algumas situações adversas, o local conta com infraestrutura básica que atende as necessidades de subsistência das famílias ali presentes. Não conta com equipamentos de lazer ou comunitários próximos, e inclusive é uma das preocupações lançadas pelos entrevistados na APO, onde é quase unânime a reivindicação por espaços qualificados, como praças, ou quadras poliesportivas.

Esteticamente, as construções não contam com nenhuma característica que denote alguma qualidade visual relevante, mesmo porque se houvesse alguma, estaria encoberta pelos muros, primeiros “apêndices” das casas, e item primordial para qualquer morador dali. Contando com uma planta pobre em pensamento espacial, tanto de organização quanto de funcionalidade dos ambientes. Sala, quarto, cozinha, banheiro. Área de 36m², o mínimo exigido para tal tipologia, que poderiam ser melhor aproveitados caso houvesse a preocupação em dar conforto e bem-estar, e não fossem envolvidos tantos assuntos políticos sem a consciência social necessária, muito mais benéfica a longo prazo, tanto para o lado do poder quanto para o da população.

           Embora tudo pareçam mazelas, as famílias residentes no pequeno conjunto se mostram satisfeitas com o simples fato de que aquelas são suas propriedades de papel passado. Todas as residências sofreram modificações por iniciativa dos proprietários, buscando dar mais comodidade, com coberturas avançando para os afastamentos laterais, edículas. E mesmo ali pode se ver que a oportunidade é de quem faz, com uma das moradias oferecendo serviço de manicure.

           A vontade da população, aliada a boas ações públicas voltadas para o crescimento sustentável deveriam ser sempre prioridade. Espera-se que para o Jardim Sucupira e os bairros próximos, isso se dê melhor agora, que grande parte das famílias ali residentes terá posse do seu direito pela terra e a melhorias que isso lhes trará. A cidade tende a crescer bastante para a região leste. Exemplo disso é o residencial Jardim Novo Mundo, nas proximidades do Jardim Sucupira, na margem oposta à BR, mais um dentre vários empreendimentos recorrentes, mas que tendem a alavancar a região. E desse crescimento que se espera maiores investimentos que levem melhorias a todos por ali, principalmente para os conjuntos habitacionais pensados de maneira rasa, para que estes tenham o verdadeiro conforto que os donos daqueles lares merecem ter.



Algumas estatísticas baseadas no questionário fornecido para pesquisa:



Fotos de algumas das casa visitadas no Conjunto Habitacional Jardim Sucupira:

Sala de TV: a disposição do móveis torna-se impossível abrir a porta de entrada para a sala

Cozinha: neste caso a casa foi modificada ganhando uma área de serviço externa , transformando onde seria a pia em um simples apoio.

Cozinha modificada.


Paginação de piso de uma das casas.

Varanda: uma das modificações feitas pela maioria dos moradores. 
Expansão: a fachada recebe um melhor tratamento e ocorre o abandono dos fundos, local onde se encontra lixo e entulhos. 


Tanque externo a casa.


A falta de espaço somada a falta de organização resultam em espaços perdidos e mal aproveitados. 


Cuba externa ao banheiro.


Disposição de mobiliário: com a cama em frente o guarda-roupas não se consegue abrir a porta do mesmo totalmente.

Má disposição de mobiliário gera dificuldade de locomoção no interior da casa.






Citações de alguns dos moradores entrevistados:

“O espaço é pequeno, os materiais e acabamentos não são os melhores, mas tudo isso foi dito na reunião com a prefeitura, antes de entregarem as casas para nós. É tudo simples, mas também se fosse coisa muito boa o financiamento seria mais caro e não teríamos condições de pagar.” - Zilene

“A casa é muito apertada, os móveis não cabem e quando cabem não sobra espaço pra passar, também nem tem área de serviço, meu pai vai me ajudar a fazer uma.” - Luciene

“Apesar do presídio aqui perto, que todos falam ser perigoso, eu acho aqui seguro. Pego ônibus todos os dias de madrugada pra ir trabalhar e nunca me aconteceu nada.” - Gleiva

“A prefeitura acha que só porque é casa pra pobre eles podem fazer os trem tudo mal feito, apertado , de qualquer jeito.” - Luciene

“Eu sou satisfeita com a minha casa, pra mim ela atende minhas necessidades e eu gosto daqui e só por ser minha, é melhor ainda.” - Zilene


           Ao conhecermos as casas do Conjunto Habitacional Sucupira, notamos alguns problemas explícitos, como: dimensão da casa e consequentemente dos cômodos, dificuldade para dispor o mobiliário, isolamento acústico, temperatura média natural da casa, falta de equipamentos urbanos no bairro, dentre outros. Apesar de todos os problemas, a população se mostra satisfeita com o lugar onde vivem. Baseado nessa opinião dos moradores, surge uma análise mais sociológica e psicológica do que arquitetônica. A satisfação se dá por estes moradores, na maioria dos casos, virem de situação mais precárias que a atual e terem a possibilidade de possuir uma casa própria, isso geral uma satisfação, muitas vezes, sem ter aguçar o senso crítico dessas pessoas, seja por falta de conhecimento, por aceitação ou por outros fatores. 
          A casa é entregue sem forro, sem muro, sem área de serviço (apenas um tanque externo) e sem calçamento ao redor da casa. Ao conversarmos com os moradores descobrimos as prioridades de modificações das casa. A primeira dessas era fazer o muro, o qual garantia privacidade e ajudava na segurança. Em segundo lugar, para a maioria, era a colocação do forro, pois esse ajuda na acústica da casa. Depois disso viriam a varanda e extensões da casa, colocação do piso e em último lugar a pintura. Notamos que a maioria os moradores privilegiam a estética somente na fachada, deixando os fundos das casas em um certo abandono. 
          Falando um pouco sobre o entorno destas 18 casas analisadas, notamos que o bairro é desprovido de equipamentos urbanos básicos, como posto de saúde ou hospital, escola ou creche, posto policial, supermercado. O ponto de ônibus também se encontra relativamente distante. Todos os entrevistados demonstraram o desejo de que existisse uma praça, com playground e quadras para as crianças brincarem, que na falta destes equipamentos o local para elas brincarem é na rua ou no quintal de suas casas. 
          Outro ponto que discutimos com os moradores foi sobre a presença da penitenciária de Uberlândia no bairro. A maioria deles nos disseram que não se importam muito com esse fato e que consideram a região segura, apesar da situação. 
         Concluindo com um senso arquitetônico crítico, noto que a maioria dos conjuntos habitacionais feitos pela prefeitura tem como resultado moradias mínimas, feitas com uma qualidade mínima de materiais, qualidade mínima de um projeto que mal se pode classificar como arquitetônico, com um conforto mínimo, estética extremamente mínima e tudo reduzido ao MÍNIMO. Assim, meu objetivo neste Atelier de Habitação Social é projetar uma moradia mínima, porém como máximo de qualidade possível. Que seja flexível, que dê ao morador várias possibilidades de uso, conforto, qualidade de vida, bem estar e que seja um projeto com uma arquitetura de alta qualidade.

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